Seria, no mínimo, hipocrisia escrever qualquer texto sobre a franquia "Harry Potter" sem dizer que ao longo dos sete capítulos, a trama ganhou um ar mais adulto e com certeza mais sombrio. E neste "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1" o diretor David Yates, eleva a atmosfera fantasiosa composta por J.K Rowlling - a autora dos 7 livros - ao grau mais alto de escuridão e trevas. Além disso, neste filme, mais do que seu antecessor - dirigido pelo mesmo Yates - o aspecto emocional ganha contornos mais evidentes, sendo vários os momentos em que o espectador sente-se angustiado por ver qual desfecho cada abertura criada pela imaginação de Rowlling, está levando.
Isso comprova-se nos instantes iniciais do filme, quando Harry e Hermione se desligam de vez de seus passados. Os tios do protagonista vão embora, deixando o sobrinho sozinho. E Hermione aplica um feitiço de esquecimento em seus pais, de modo que acreditem nunca ter tido uma filha. A decisão de Yates em acrescentar uma tomada na qual mostra cada foto de Hermione quando criança se apagando, é admirável.
Desde o começo, a projeção não para de mexer com as emoções do espectador. Se não estamos empolgados pelas belíssimas sequências de ação, estamos comovidos com alguma cena de morte ou de demonstração de amizade. E para um jovem, principalmente um que esteja apaixonado, as "pistas" dadas sobre os sentimentos recíprocos entre Rony e Hermione são mais do que um prato cheio.
Entretanto, fica muito claro desde o início, que o grande propósito do filme é mostrar o caos que tomou conta do mundo, após a ascensção gradativa de Lord Voldemort. Nada elimina a tensão criada por este fato. Reparem como as habituais palhaçadas de Rony Weasley, geralmente intuitivas nos filmes anteriores, soam ineficientes aqui. Talvez, pela nítida sensação de que se dar o luxo de rir é pura ilusão, porque em breve alguma coisa muito ruim vai acontecer. Sinceramente, vejo este conceito criado intencionalmente por Yates, já que, por exemplo, alguns dos próprios personagens do filme encaram como uma tremenda bobeira o casamento entre Fleur e Gui (um dos irmãos Weasley), realizado em plenos tempos de guerra declarada.
Mas nada é mais notório do que as atuações. Para quem acompanha desde 2001 - ano de estreia do primeiro filme, "Harry Potter e a Pedra Filosofal" - é no mínimo impressionante a evolução que tiveram os três protagonistas. Daniel Radcliffe (Harry), é com certeza o melhor do filme. Sem nunca abandonar uma expressão preocupada, o garoto pela primeira vez encarnou o seu personagem com toda a naturalidade que poderia. É espantoso, inclusive a determinação que demonstra em achar o seu inimigo e dar fim a ele e a todo o sofrimento causado. Emma Watson (Hermione) é exatamente o que esperavam os leitores do livro. Uma moça que é meiga, decidida e principalmente corajosa. De uma menininha inexpressiva que apareceu em 2001, Watson se tornou uma mulher madura e invejável em seu talento como atriz. Certamente, seu sucesso não deve parar por aqui. Ruppert Grint (Rony) é o mais estável dos três. Não há grandes mudanças em sua atuação, talvez pelo fato de Grint já ter se mostrado talentoso antes que os outros dois. Entretanto, a faceta ciumenta de Rony já chegou ao seu limite e espero que ela não seja abordada no capítulo final. Ralph Fienes (Voldemort) encarna o mal brilhantemente. É assustador vê-lo como antagonista desta franquia. Seu trabalho é no mínimo igual ao de Heath Ledger, quando interpretou o Coringa em "Batman - O Cavaleiro das Trevas". E nem por isso ele recebe todo o reconhecimento que Ledger recebeu. Depois dizem que em Hollywood não há demagogia.... Alan Rickman (Snape) é brilhante desde o primeiro filme. Fornece ao seu personagem a frieza necessária para implantar a dúvida na cabeça de qualquer espectador sobre de qual lado Snape está. Tom Felton (Draco) é a perfeita representação do arrependimento. Enfim, cada atuação só engrandece esta bela produção.
Pode-se dizer que por mais que o decorrer da série deixe para trás bons personagens - como por exemplo Dobby e Olho-Tonto Moody - esta nunca perde o charme de ser uma ficção amadurecida. Ela não hesita em casar conceitos lúdicos e maduros, atraindo olhares de adultos. Para aqueles que não tiveram paciência de acompanhar os filmes até o fim, eu, pessoalmente, aconselho que assistam pelo menos o último que será lançado em 2011, "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2", porque com certeza, como ponto final da febre Harry Potter, será dono de uma qualidade que há muito tempo não se via. Certamente, esta franquia, que teve suas oscilações ao longo dos anos, será fechada com chave de ouro, assim como merece uma história tão bem montada pela genial J.K Rowlling.
OBS.: De longe, esta é a adaptação de um livro mais fiel que já foi lançada no cinema.
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