quarta-feira, 3 de julho de 2013

O HOMEM DE AÇO - Crítica


Trinta e cinco anos. Sete filmes. Quatro atores. Em números, este é o resumo da história de Superman no cinema. Acerca dos filmes do personagem, existem as mais variadas opiniões. Fanáticos pelo estilo artesanal das projeções antigas, ou conquistados pela tecnologia abundante empregada nas obras mais recentes. Prometido como a ressurreição triunfal do herói no cinema, O Homem de Aço foi anunciado com grandes perspectivas. Os nomes contratados pela Warner para ficarem à frente do projeto eram realmente promissores. O diretor Zack Snyder, em ascensão desde, talvez o trabalho mais notório de sua carreira (300) e o produtor Christopher Nolan, diretor da recém-concluída franquia "Batman". Para o elenco, simplesmente referências absolutas, numa lista encabeçada por Russel Crowe (Jor-El), Diane Lane (Martha Kent), Kevin Costner (Jonathan Kent) , Amy Adams (Lois Lane) , Lawrence Fishburne (Perry White) etc. Para o roteiro, o encarregado foi David S. Goyer (roteirista da mesma franquia "Batman" dirigida por Nolan). Enfim, um alto orçamento (US$ 175 milhões), para um projeto em torno de um personagem grandioso.

O primeiro ato é o elemento que diferencia o filme de todos os seus antecessores, já que pouco mais de meia hora é gasta para contar como o fim de Krypton se deu, e como Jor-El e Lara (Aylelet Zurer) fizeram para salvar o pequeno Kal-El da iminente destruição do planeta. Esta é uma decisão acertada por Snyder, que nos apresenta desde cedo o antagonista, General Zod (Michael Shannon). Sim! Finalmente, neste O Homem de Aço, conseguimos entender as motivações do vilão, e estas são, por sua vez, convincentes o suficiente. Fato que não acontece em, por exemplo O Espetacular Homem-Aranha ou Homem de Ferro 3. Aqui, desde o início, sabemos que Zod será o problema de Superman durante o resto da projeção, no que se mostra uma solução muito mais simples e eficiente para apresentar o inimigo do protagonista, do que a vista em Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge . 

Apesar de apresentar um início interessante, a partir do segundo ato, Zack Snyder e sua equipe se perdem completamente. Talvez, no intuito de não causar sensação de desgaste no público de recontar a velha história desde como os pais adotivos de Clark (Henry Cavill) o encontram até que este se torne o Superman, o diretor insere com tremendo descaso flashbacks desconexos e confusos ao longo do filme, tornando a narrativa interrupta e complicada. Expor novamente a mesmíssima história que o público viu em Superman (1978) , Superman - O Retorno (2006) e até mesmo na série Smallville, de modo agradável realmente não era uma tarefa fácil, por se tratar de um reboot. Mas a decisão de reimaginar a história do super-herói implicaria inevitavelmente na necessidade de mostrar tudo desde o começo. Talvez, nem o diretor e nem a produção do filme imaginariam que uma história repetida poderia prejudicar tanto a sua obra.

Mas mesmo que o fator descrito não estivesse presente, o filme talvez ainda não funcionasse bem. Isto, porque em nenhum momento, O Homem de Aço consegue prender a atenção, variando entre extremos: Ou temos momentos extremamente monótonos (principalmente as cenas que contam com o terrível trabalho de Amy Adams, como Lois Lane), ou então sequências de ação pura e exageradamente digitais. Mais uma vez, Hollywood se mostra incompreensível aos recursos em CGI (computação gráfica) : A técnica é uma ferramenta e não o alicerce de uma produção live-action. Assim sendo, a projeção jamais consegue alcançar um equilíbrio, aumentando ainda mais o desgaste do espectador.

Em relação às atuações, Russel Crowe e Kevin Costner são os únicos que merecem destaque positivo. Crowe encarna Jor-El com a superioridade devida. Costner já é o oposto: Serenidade e doçura, são as características-chave do personagem. Henry Cavill, como Superman, é mais uma tentativa falha de interpretação do herói, ficando abaixo inclusive de Brandon Routh em Superman - O Retorno. Cavill possui "tiques" que precisam ser eliminados rapidamente de seu repertório de atuação (reparem por exemplo, como soa falso o hábito de o ator o tempo todo cruzar os braços, enquanto veste o uniforme do herói, talvez querendo demonstrar algum tipo de imponência). Michael Shannon, como o General Zod, em vez de passar o tom cruel que tenta, passa características de um lunático, com os olhos arregalados o tempo todo, quase beirando a "canastrice". Diane Lane, Lawrence Fishburne e Ayelet Zurer representam personagens neutros: Não prejudicam e não acrescentam nada.

A história em si, como já dito, inicialmente se mostra interessante. Mas os erros de direção e atuação, comprometem totalmente, o que poderia ser um enredo atrativo. A sensação é de um completo desperdício. Talvez, sob cuidados mais talentosos, ainda seria possível resgatar alguma qualidade que a própria "mitologia" do herói oferece. Do contrário, vemos personagens e ambientes tão "reimaginados" (como gostam de chamar) que acabam perdendo sua identidade.

A realidade que os fãs de filmes de super-herói devem encarar, é que o estilo passa por uma péssima fase. Nos últimos anos, apenas um filme do gênero conseguiu recompensar a espera do público com um trabalho descente: Os Vingadores. Quanto ao resto, são filmes burocráticos e sem imaginação. Infelizmente, O Homem de Aço não consegue ser o divisor de águas, se tornando apenas mais um filme comercial, dentre tantos. Estabelecer comparativos entre os filmes do Superman atuais e antigos, é no mínimo perda de tempo. Mesmo com tão poucos recursos, a franquia iniciada no final da década de 1970 e estrelada por Christopher Reeve era muito mais compromissada com o entretenimento de seu público do que o puro desejo de impressionar seus olhos. E num confronto, o primeiro aspecto pesa muito mais.


UNIVERSIDADE MONSTROS - Crítica

Sem um grande filme desde Toy Story 3, em 2010, a Disney/Pixar já vinha sendo desacreditada por alguns fãs e até mesmo por vários críticos. A famosa empresa, autora de verdadeiras obras-primas, como Toy Story, Vida de Inseto, Procurando Nemo, Os Incríveis e tantas outras, permitiu que seu padrão de qualidade fosse reduzido tanto ao ponto de criar-se a necessidade de recorrer à outro grande sucesso, que leva sua assinatura: Monstros S.A. Assim, o anúncio do lançamento de Universidade Monstros, ainda no ano passado causou grande alvoroço, mas também certa dúvida: A Disney/Pixar ainda consegue produzir grandes filmes originais, ou suas grandes obras só serão fruto de continuações ou prequels que fazem referências projeções do passado?

Muito em função do seu antecessor, é verdade, quem vai assistir à Universidade Monstros, já está pré-condicionado a gostar do filme, não só pela exímia qualidade daquela obra, mas também por remontar saudosas épocas de infância de grande parte do público. Mas este longa parece ter a capacidade tanto de manter seus antigos fãs, como também de angariar novos. Sim, o que (eu, particularmente, confesso) se temia, não aconteceu: Universidade Monstros não deixa à desejar em nenhum momento, em relação à Monstros S.A.

O filme, como é de hábito da Pixar (em momentos inspirados, é claro) já começa de maneira muito interessante. Num estilo muito parecido com o de Up - Altas Aventuras, o diretor Dan Scanlon, monta uma introdução extremamente simpática, que mergulha os espectadores no profundo interesse de conhecer a história de Mike e Sulley, com uma prévia divertida e uma sequência de mix entre desenhos digitalmente concebidos em 2D e uma trilha sonora igualmente intuitiva. A partir do segundo ato, a grande intenção da produção do filme parece ser a de causar risadas no público. Muito mais comprometido com o divertimento do que a construção de um universo (o que se faz desnecessário, já que esta é uma obra sucessora), Universidade Monstros envolve os velhos e novos personagens em situações engraçadíssimas à todo momento, sem deixar é claro, pontas soltas para que o clímax, de certa maneira dramático, seja amarrado com eficiência no final.

Como eu já disse no início desta crítica, possuo sempre um certo receio quando se trata de continuações, ou principalmente pré-continuações (estilo que dificilmente dá certo) de obras clássicas. Além de Monstros S.A ser uma obra formidável, a composição de seus personagens é fantástica. Mike era um sujeito determinado e até ocasionalmente rude, mas extremamente leal. Sulley personalizava a sensibilidade da dupla. Bem, devo alertar que a personalidade dos protagonistas são ligeiramente alteradas neste Universidade Monstros, mas isto é feito com algum objetivo, diferentemente de Carros 2, onde os protagonistas são completamente distorcidos sem motivo aparente, em relação ao ótimo Carros. Aqui, a produção do filme retrata personagens imaturos, que vão ganhando a conhecida forma que possuem no primeiro filme com o decorrer da projeção, fato que merece aplausos sem dúvida nenhuma. Manter um personagem em sua essência por mais de um filme é tarefa que poucos diretores conseguem realizar, mas transformar uma personalidade em outra de maneira convincente é algo que poucos se aventurariam a tentar.

A história é também bem concebida, se utilizando de todos os elementos presentes em uma universidade norte-americana: Irmandades, times de futebol americano, festas, jaquetas estilizadas, individuos populares, rejeitados, nerds, aproveitadores - dentre outras categorias - etc. Mas o que realmente surpreende no roteiro do filme é a ideia passada nas entrelinhas, inédita na minha concepção. Os filmes do gênero animação, sempre possuem como "moral da historia" ideais de motivação clichês como "siga seus sonhos", ou então "acredite em si mesmo". A ideia passada nesta obra, no entanto, é um pouco diferente e convenhamos, um pouco mais realista: Não podemos ser exatamente qualquer coisa que quisermos ser. Temos aptidões a serem seguidas. Mas devemos sim fazer o melhor que pudermos com as nossas tendências. Este valor é abrilhantado por um drama criado de maneira real e convincente, se assemelhando mais como lição de vida do que com ideais de auto-ajuda, como vemos em tantas outras animações.

O aspecto técnico do filme é, como já era de se esperar, perfeito. Texturas e iluminações incrivelmente realistas, modelos 3D orgânicos, sonoplastia bem inseridas, movimentos das bocas do personagem em perfeita sincronia com a dublagem (ótima dublagem, diga-se de passagem, tanto no original com John Goodman e Billy Cristal de volta aos papéis principais, Sulley e Mike, respectivamente, como Mauro Ramos e Sérgio Stern na mesma condição, na versão brasileira) e outros inúmeros fatores, apenas reafirmam a Disney/Pixar como referência inigualável na indústria cinematográfica 3D.

Os personagens também merecem destaque. Os já conhecidos Mike e Sulley, como protagonistas, são novamente a referência do enredo. Os novos personagens, como os integrantes da irmandade Oozma Kappa, são o charme especial da obra, dando o tom inédito que qualquer filme deve possuir, sem abandonar ou ignorar o contexto do qual estão inseridos. Existem ainda aparições referentes ao longa original que são extremamente bem-vindas, como George (para que se lembrem do personagem, basta recordar da fala "2319! Temos um 2319!") e os integrantes da CDA (inclusive "a número 1").

Tomando ainda o cuidado de fazer várias referências à Monstros S.A de maneira elegante e discreta, e se utilizando da trilha sonora original em alguns momentos, Universidade Monstros é um excelente filme, que parece retomar o velho padrão de qualidade da Disney/Pixar. Como fã incondicional da empresa, torço para que este filme seja o reinício de uma série de bons filmes. De fato, seria incorreto afirmar com certeza, de que a fase ruim que compreendeu os péssimos Carros 2 e Valente, foi definitivamente superada, porque parte da eficiência mostrada neste filme, se deve à reputação estabelecida para este universo, construída no longínquo 2001, quando tivemos a grande honra de contemplar Monstros S.A pela primeira vez. Não, ainda não é uma nova grande fase da Disney/Pixar. Mas já é um ótimo começo.