quarta-feira, 3 de julho de 2013

UNIVERSIDADE MONSTROS - Crítica

Sem um grande filme desde Toy Story 3, em 2010, a Disney/Pixar já vinha sendo desacreditada por alguns fãs e até mesmo por vários críticos. A famosa empresa, autora de verdadeiras obras-primas, como Toy Story, Vida de Inseto, Procurando Nemo, Os Incríveis e tantas outras, permitiu que seu padrão de qualidade fosse reduzido tanto ao ponto de criar-se a necessidade de recorrer à outro grande sucesso, que leva sua assinatura: Monstros S.A. Assim, o anúncio do lançamento de Universidade Monstros, ainda no ano passado causou grande alvoroço, mas também certa dúvida: A Disney/Pixar ainda consegue produzir grandes filmes originais, ou suas grandes obras só serão fruto de continuações ou prequels que fazem referências projeções do passado?

Muito em função do seu antecessor, é verdade, quem vai assistir à Universidade Monstros, já está pré-condicionado a gostar do filme, não só pela exímia qualidade daquela obra, mas também por remontar saudosas épocas de infância de grande parte do público. Mas este longa parece ter a capacidade tanto de manter seus antigos fãs, como também de angariar novos. Sim, o que (eu, particularmente, confesso) se temia, não aconteceu: Universidade Monstros não deixa à desejar em nenhum momento, em relação à Monstros S.A.

O filme, como é de hábito da Pixar (em momentos inspirados, é claro) já começa de maneira muito interessante. Num estilo muito parecido com o de Up - Altas Aventuras, o diretor Dan Scanlon, monta uma introdução extremamente simpática, que mergulha os espectadores no profundo interesse de conhecer a história de Mike e Sulley, com uma prévia divertida e uma sequência de mix entre desenhos digitalmente concebidos em 2D e uma trilha sonora igualmente intuitiva. A partir do segundo ato, a grande intenção da produção do filme parece ser a de causar risadas no público. Muito mais comprometido com o divertimento do que a construção de um universo (o que se faz desnecessário, já que esta é uma obra sucessora), Universidade Monstros envolve os velhos e novos personagens em situações engraçadíssimas à todo momento, sem deixar é claro, pontas soltas para que o clímax, de certa maneira dramático, seja amarrado com eficiência no final.

Como eu já disse no início desta crítica, possuo sempre um certo receio quando se trata de continuações, ou principalmente pré-continuações (estilo que dificilmente dá certo) de obras clássicas. Além de Monstros S.A ser uma obra formidável, a composição de seus personagens é fantástica. Mike era um sujeito determinado e até ocasionalmente rude, mas extremamente leal. Sulley personalizava a sensibilidade da dupla. Bem, devo alertar que a personalidade dos protagonistas são ligeiramente alteradas neste Universidade Monstros, mas isto é feito com algum objetivo, diferentemente de Carros 2, onde os protagonistas são completamente distorcidos sem motivo aparente, em relação ao ótimo Carros. Aqui, a produção do filme retrata personagens imaturos, que vão ganhando a conhecida forma que possuem no primeiro filme com o decorrer da projeção, fato que merece aplausos sem dúvida nenhuma. Manter um personagem em sua essência por mais de um filme é tarefa que poucos diretores conseguem realizar, mas transformar uma personalidade em outra de maneira convincente é algo que poucos se aventurariam a tentar.

A história é também bem concebida, se utilizando de todos os elementos presentes em uma universidade norte-americana: Irmandades, times de futebol americano, festas, jaquetas estilizadas, individuos populares, rejeitados, nerds, aproveitadores - dentre outras categorias - etc. Mas o que realmente surpreende no roteiro do filme é a ideia passada nas entrelinhas, inédita na minha concepção. Os filmes do gênero animação, sempre possuem como "moral da historia" ideais de motivação clichês como "siga seus sonhos", ou então "acredite em si mesmo". A ideia passada nesta obra, no entanto, é um pouco diferente e convenhamos, um pouco mais realista: Não podemos ser exatamente qualquer coisa que quisermos ser. Temos aptidões a serem seguidas. Mas devemos sim fazer o melhor que pudermos com as nossas tendências. Este valor é abrilhantado por um drama criado de maneira real e convincente, se assemelhando mais como lição de vida do que com ideais de auto-ajuda, como vemos em tantas outras animações.

O aspecto técnico do filme é, como já era de se esperar, perfeito. Texturas e iluminações incrivelmente realistas, modelos 3D orgânicos, sonoplastia bem inseridas, movimentos das bocas do personagem em perfeita sincronia com a dublagem (ótima dublagem, diga-se de passagem, tanto no original com John Goodman e Billy Cristal de volta aos papéis principais, Sulley e Mike, respectivamente, como Mauro Ramos e Sérgio Stern na mesma condição, na versão brasileira) e outros inúmeros fatores, apenas reafirmam a Disney/Pixar como referência inigualável na indústria cinematográfica 3D.

Os personagens também merecem destaque. Os já conhecidos Mike e Sulley, como protagonistas, são novamente a referência do enredo. Os novos personagens, como os integrantes da irmandade Oozma Kappa, são o charme especial da obra, dando o tom inédito que qualquer filme deve possuir, sem abandonar ou ignorar o contexto do qual estão inseridos. Existem ainda aparições referentes ao longa original que são extremamente bem-vindas, como George (para que se lembrem do personagem, basta recordar da fala "2319! Temos um 2319!") e os integrantes da CDA (inclusive "a número 1").

Tomando ainda o cuidado de fazer várias referências à Monstros S.A de maneira elegante e discreta, e se utilizando da trilha sonora original em alguns momentos, Universidade Monstros é um excelente filme, que parece retomar o velho padrão de qualidade da Disney/Pixar. Como fã incondicional da empresa, torço para que este filme seja o reinício de uma série de bons filmes. De fato, seria incorreto afirmar com certeza, de que a fase ruim que compreendeu os péssimos Carros 2 e Valente, foi definitivamente superada, porque parte da eficiência mostrada neste filme, se deve à reputação estabelecida para este universo, construída no longínquo 2001, quando tivemos a grande honra de contemplar Monstros S.A pela primeira vez. Não, ainda não é uma nova grande fase da Disney/Pixar. Mas já é um ótimo começo.

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