quarta-feira, 20 de agosto de 2014

PLANETA DOS MACACOS: O CONFRONTO - Crítica



Inegavelmente, a franquia Planeta dos Macacos já passou por maus bocados em sua história. Desde o lançamento do seu primeiro longa, em 1968, que foi aclamado pela crítica e é considerado até hoje um dos clássicos de Hollywood, mais seis filmes receberam o título: Três deles, continuações do original, na década de 1970, um de 2001 (verdadeiramente sofrível) e dois que constituem o reboot iniciado em 2011. O fato é que a franquia ficou mais de 40 anos esperando que alguém lhe desse uma nova chance digna no cinema. Como já dito acima, em 2011 esta chance foi dada. Planeta dos Macacos : A Origem é um filme a ser admirado sob muitos aspectos. O primeiro deles é o sistema de captura de movimentos utilizado, que já na ocasião, se mostrava eficaz e orgânico o suficiente para satisfazer o espectador. Além disso, enredo, direção, elenco, edição e montagem (e particularmente, acrescento trilha sonora à esta lista) fizeram deste um dos melhores filmes daquele ano, quebrando desconfianças e até mesmo certezas de que a franquia seria incapaz de se reinventar de maneira positiva.

Em 2014, esta história continua. Planeta dos Macacos: O Confronto segue a "tradição" de seu antecessor e se estabelece como um dos melhores filmes do ano de seu lançamento.

O filme parte do princípio deixado ao fim do primeiro capítulo: A "Gripe Símia", resultado dos experimentos com a droga ALZ-112, dizima grande maioria da raça humana, deixando vivos apenas os indivíduos geneticamente imunes ao vírus. Em paralelo à isso, a sociedade iniciada e liderada por César (Andy Serkis) cresce e prospera cada vez mais. Agora, o grupo de macacos é uma sociedade organizada, onde cada elemento possui uma função bem definida. Humanos e Macacos entram em conflito quando os primeiros descobrem que podem restabelecer a energia elétrica restaurando uma represa que encontra-se dentro do território dos Símios.

A premissa do filme, descrita acima, de imediato revela-se genial por ser interessante, e mostra-se reflexiva à nossa realidade ao longo da projeção: Como não entrar em guerra com um grupo de indivíduos, se estes possuem algo que é fundamental para que o grupo ao qual eu pertenço sobreviva?

E é a partir das diferentes respostas para esta pergunta que este O Confronto ganha mais brilho à cada cena. Em ambas as sociedades existem líderes, indivíduos pacificadores e indivíduos radicalmente revolucionários. E é justamente a personalidade de cada um destes elementos que tornam a convivência entre Humanos e Símios intrigante. Um dos grandes acertos de Matt Reeves (diretor) é não caricaturizar os personagens, não tornando-os seres unilaterais e previsíveis. Pelo contrário, é o conflito interno de cada um que nos faz ansiar por saber como a história se desenrolará: Qual caminho deve-se escolher? O da pacificidade vulnerabilizadora, ou a da agressividade fundamentada pelo medo do outro?

Interessante notar também, a perspectiva escolhida pelo diretor para retratar as duas sociedades: Ao mostrar o lar dos Símios, Reeves sempre opta por utilizar imagens panorâmicas, nos induzindo a conferir a grandiosidade e o crescimento admirável da população liderada por César. Ao mostrar o albergue onde os Humanos se localizam, ângulos fechados e apertados são a decisão mais do que perfeita, para que se mostre que a raça humana está aos poucos, se definhando, novamente lançando uma reflexão aos espectadores: Quão longe estamos de situações como estas, onde precisaremos lutar dia após dia pela nossa sobrevivência, sem recursos dos quais hoje somos escravos?

O aspecto técnico do filme é também impecável do ponto de vista artístico, uma vez que o CGI empregado é tão perfeito que chega a ser imperceptível a artificialidade virtual dos personagens concebidos segundo esta tecnologia. As rugosidades das faces dos Símios, a tremulação de suas pupilas e o sutil moviementos de suas narinas e bocas, são detalhes que, mais uma vez, fazem toda a diferença.

O elenco mostra-se eficaz, mas menos interessante que o antecessor: Gary Oldman e Jason Clarke, poderiam ter conferido mais veracidade aos seus personagens, pois a história particular de Dreyfus e Malcom, respectivamente, dariam abertura a interpretações mais contundentes. Andy Serkis é o mesmo gênio, como de costume. Destaque também ao elenco que interpreta os outros macacos da sociedade símia, que injustamente são pouco creditados, pois aqui realizam um trabalho tão perfeito quanto o de Serkis.

Outra característica marcante do filme (que gerou indevidas contradições em seu antecessor) é a capacidade dos macacos falarem. Aqui, funciona como uma ferramenta dramática encaixada perfeitamente no enredo da projeção. O fato de César e seus liderados ainda possuírem dificuldade em pronunciar palavras perfeitamente, torna a atmosfera de transição entre seres irracionais e racionais mais plausível e, particularmente mais intimidadora. Impossível deixar de sentir a mesma admiração e medo também, de certo personagem que ao conferir a habilidade dos primatas, sente-se ameaçado e adota uma postura agressiva ao menor contato com os mesmos.

Planeta dos Macacos: O Confronto é a confirmação de que a franquia efetivamente voltou e com mais algumas sequencias sob os mesmos cuidados de seus dois capítulos iniciais, pode ficar na história do cinema. Basta saber, se o estilo e a qualidade adotadas até aqui, serão preservadas futuramente. Mas uma coisa é mais do que certa: César e sua comunidade podem ainda render grandes obras e ao que parece, vai salvar a reputação do livro francês, de 1963,  La planète des Singes , de Pierre Boulle, cuja criação, depois de quatro décadas, finalmente, ganhou uma releitura complexa, sombria e simplesmente fascinante.

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