
No final da década de 90, época em que a literatura em geral, sofria um período de clara estagnação, a então desconhecida Joanne Kathleen Rowling nos ofereceu o primeiro grande fruto de sua imaginação: Harry Potter e a Pedra Filosofal vendeu mais de 120 milhões de livros ao redor do mundo, garantindo à sua autora a atenção do público. Todos despertaram para o que parecia ser uma genialiade incomum. Naquele livro simples, de menos de 300 páginas, havia com certeza o dom de escrita e mais do que isso, o dom de fazer desta escrita a febre que perdurou ao longo de toda a década seguinte.
O grande sucesso literário então, ganhou vida nos cinemas em 2001, quando a Warner encarou a grande (e promissora, é verdade) responsabilidade de converter toda a franquia em linhas, para a franquia em cenas. A partir daí, a série passou pelas mãos de quatro diretores. Para a nossa alegria, apreciadores da saga, as últimas mãos foram também as mais talentosas: as do diretor David Yates, que conduziu com maestria os quatro últimos filmes da franquia.
Quando surgiu a notícia de que o último capítulo seria divido em dois filmes, um preconceito, hoje eu vejo, sem sentido já me atingiu. Achei que uma série de tanto sucesso teria um desfecho desnecessariamente fragmentado. Mas hoje, eu sou obrigado a reverenciar e aplaudir uma decisão corajosa que concedeu à esta saga o final maravilhoso que ela merecia.
E devo dizer que David Yates é, sem a menor sombra de dúvida, um dos diretores mais habilidosos que eu já vi. É difícil profetizar se os próximos trabalhos do cineasta reafirmarão este conceito, mas na sexta-feira, dia 15/07/2011 - data de estreia do longa - tive que reconhecer a competência de um homem que criou a nítida sensação de que todos os outros filmes foram feitos em função de um desfecho que, em suas respectivas épocas de produção não eram conhecidos por ninguém, talvez nem mesmo pela própria autora dos livros.
Não seria possível encerrar a febre Harry Potter de maneira tão perfeita quanto esta. Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 não para, um minuto sequer, de mexer com todos os nossos sentimentos, fazendo com que todos eles se misturem. A adrenalina é extravasada em lágrimas de emoção, as risadas são manifestadas em espasmos de apreensão. Não há como descrever de maneira exata, a sensação que se tem ao assistir esta impecável obra.
E se elogiei, na crítica de Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1 as atuações, nesta projeção, os atores beiram a perfeição. Os destaques vão mais uma vez para Daniel Radcliffe (Harry Potter) e Ralph Fiennes (Voldemort) que formaram a dupla de adversários mais fascinante do cinema nos últimos tempos. Que inspiração admirável a encarnada pelos dois atores ao exaltarem o ódio que sentem um pelo outro! É notável que essa superação se deu pela absorção de responsabilidade que sabiam que tinham, por se tratar do último filme.
David Yates esbanja sua habilidade ao colocar de forma sensitiva o tom fúnebre que a história exige, quando mostra numa sequência de tomadas os cadáveres dos que batalharam. Quando os espectadores sentem a dor da perda de personagens fictícios, é um claro sinal de que a produção funciona com exímia eficiência. E o diretor ainda acerta em incrementar detalhes que, segundo a tradução de Lia Wyler (tradutora oficial de J.K Rowlling para o Brasil), não constam no último livro.
No final das contas, a história fantasiosa de um bruxinho que vai à um castelo ter aulas de magia, tem muito mais a oferecer do que se imaginava. A história de Harry Potter penetra em nossas mentes deixando um legado que pode ser traduzido em coragem e acima de tudo, em lealdade. O personagem que ficou em evidência por mais de dez anos, agora vai embora, se transformando num ícone de sua época. As gerações seguintes lerão os livros e assistirão os filmes, mas não terão a menor noção de como foi acompanhar esta jornada em tempo real. Está fechada com chave de ouro, a história que nos fez acreditar naquilo que as lendas tinham de mais fantasioso, no que nunca sonhávamos em admirar. Encerra-se a febre. A ansiedade por novas histórias se transforma em saudades das antigas. É hora de viver sem "o menino que sobreviveu". Infelizmente, agora é preciso assimilar e aceitar os dizeres do cartaz acima: "Tudo acaba!"
Eu também era contra a divisão... achei que era só pra ganhar dinheiro... mas vimos, depois deste ótimo filme, que, além do interesse financeiro, a história teria tido um roteiro pobre e insuficiente, caso tivesse tido que condensar o livro todo. Em tempo, fica a dúvida: será que a franquia teria recebido menos críticas negativas ao longo dos filmes, se tivesse dividido outros livros também, já que a falta de detalhes sempre foi o calcanhar de Aquiles da série?
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