O CGI é certamente a técnica cinematográfica que mais vem sendo aprimorada nas últimas décadas. Utilizado tanto como mero recurso visual, como também alicerce para uma produção, o estilo vem se enriquecendo com o decorrer dos anos, demonstrando que pode tranquilamente substituir o live-action quando a circunstância exigir. Talvez hoje em dia, a única certeza de quem vai ao cinema assistir os mais recentes filmes do gênero animação, é a de que vão ver uma projeção riquíssima em detalhes e com jogos de câmeras incrivelmente realistas, fator que por si só já gratifica aquele espectador que adora um efeito gráfico, desde os mais psicodélicos até os mais suaves. Não é mais segredo para ninguém de que atualmente, os filmes feitos em CGI possuem uma hierarquia que vem se evidenciando já a algum tempo. No topo desta dita hierarquia, está a Disney/Pixar autora dos mais fabulosos filmes realizados pela computação gráfica. Bem atrás, está a DreamWorks cujo feito mais memorável foram - apenas! - os dois primeiros filmes da franquia Shrek. E correndo por fora, a BlueSky (dona da boa franquia A Era do Gelo), Sony Enterteinment, entre outras. Reafirmando a ideia, todas estas apresentam aspectos técnicos excepcionais - excetuando a Disney/Pixar que atinge a perfeição de acordo com o máximo que os computadores ainda podem oferecer.
Por isso, a belíssima imagem de um cinema é o que faz este fraco Kung Fu Panda 2 valer a sua uma hora e meia de duração (aproximadamente). O que certamente garante todo o seu reconhecimento exclusivamente em seu período em cartaz. Depois disso, o filme deve cair no esquecimento.
O que a DreamWorks - produtora da projeção - parece não entender é que uma animação não precisa necessariamente ser em sua maior parte de cunho infantil. Se no original a sequencia de introdução já soa bobinha, nesta continuação a introdução soa "para menores de 3 anos". Reparem a diferença de nível intelectual de introduções de obras-primas da Disney/Pixar, como Os Incríveis, Carros, Toy Story 3, para esta raza animação.
Infelizmente a mentalidade da diretora Jennifer Yuh parou na década de 90 e não evoluiu com os filmes lançados desde então. Os protagonistas não precisam mais serem bobos ao extremo, oferecendo um humor às vezes parecido com a série (que hoje não teria sucesso nenhum) clássica Os Três Patetas - ainda que Poh, o personagem principal tenha alguns momentos divertidos neste longa. Os vilões não precisam mais serem inexplicavelmente abomináveis e cruéis. Muito pelo contrário, eles precisam ter a sua profundidade e a origem de sua maldade - ainda que se bem construídos descartam até mesmo a segunda exigência, haja visto o Coringa de Batman - O Cavaleiro das Trevas. E, talvez o mais importante: O público não é mais o mesmo que era na década de 90. Portanto, todos os elementos que compunham uma obra daquele tempo devem ser obrigatoriamente extintos de um filme contemporâneo - pelo menos um que se preocupe em ser no mínimo razoável.
O pior é que o tipo de humor escolhido para esta animação não é bem definido. Se em algumas tomadas vemos os velhos clichezinhos - que a DreamWorks adora usar diga-se de passagem - em outros poucos momentos tiradas inteligentíssimas foram incluídas. (Uma em particular do Louva-Deus é de longe a melhor piada do filme. A grande prova é que foi usada duas vezes no mesmo filme)
Outro fator que merece destaque negativo é o de que os roteiristas Glenn Berger e Jonathan Abiel se atrapalharam ao escrever o filme. Talvez afim de desenvolver uma subtrama que pudesse se desenrolar paralelamente com o enredo principal, a dupla não conseguiu dar profundidade emocional nenhuma ao contar a origem do urso Poh. Cientes disto, para tentar salvar o trabalho malfeito, tentaram desesperadamente encaixar uma sequencia de flashbacks acompanhados de um tom muscial agudo. O resultado... "Que saudade de Toy Story 3".
Mas e as cenas de ação do filme? Um filme que tem "Kung-Fu" em seu título, não poderia deixar de lado a modalidade de luta da qual inicialmente propõe. Bem, particularmente confesso que não entendo de luta, mas desafio alguem que entenda a tentar identificar o estilo empregado na projeção. Jennifer Yuh utiliza-se de uma dinâmica exageradamente rápida nas sequências de ação, impossibilitando a visualização precisa do que se trata aquilo. O que eu, leigo no assunto, vi foi um monte de bichinhos se pegando na porrada de modo desordenado e desesperado.
Entretanto a grande incógnita do filme é a Tigresa - personagem dublada originalmente por Angelina Jolie. Estou esperando até agora as explicações que são implicitamente prometidas no início do filme: Por que ela é tão séria? Qual é a origem dela? Por que fica sensível de uma hora pra outra? Quem souber, atire a primeira pedra.
Nenhum personagem novo nesta continuação vale a pena. A cabra velha é um personagem chato e sem conteúdo. O vilão parece mais um personagem secundário - a grande prova de sua falta de presença é que eu não me lembro do nome dele. Os grandes mestres do Kung Fu (personalizados num boi e num jacaré) são quase transparentes. O resultado desta grande mistura horrível é que em nenhum momento a ameaça apresentada pela história parece real. Ela nem é de fato ameaçadora, contrapondo o próprio conceito.
Um ponto a ser elogiado é a dublagem brasileira. Lúcio Mauro Filho faz um novo excelente trabalho como o protagonista, o que contraria a - quase - regra de que dublagem feita por não-dubladores é um lixo. Não é mesmo Luciano Huck?!
Concluindo, Kung Fu Panda 2 parece mais uma jogada de marketing barata da DreamWorks, que serve para render lucros no setor comercial de brinquedos, já que as crianças de um modo geral só querem ter nas mãos os personagens que viram na tela. Assim, a produtora joga fora uma excelente oportunidade de passar a frente ao menos uma vez à sua principal concorrente, que lançará o pouquíssimo divulgado e esperado Carros 2 - que a julgar o trabalho pré-estreia que vem sendo feito, deixa muito a desejar a seus antecessores. Mas mesmo que a fraca ambição do novo filme da Disney/Pixar se confirme, a produtora deste Kung Fu Panda 2 precisa entender que as animações deixaram pra trás a muitíssimo tempo o propósito exclusivo de serem simplesmente "bonitinhas". O gênero pode - e deve - oferecer muito mais que isso.
OBS.: Para encerrar um trabalho ruim, o filme possui um final inteiramente desnecessário.
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